Entrevista: Guerra contra a pirataria – Como as Marinhas combatem ameaças em evolução

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Apesar dos navios de tecnologia avançada e das contramedidas para o problema, a pirataria está expandindo sua área de influência. Berenice Baker conversa com Glen Forbes, ex-oficial da Marinha Real Britânica e co-fundador da OCEANUSLive – um serviço que permite às embarcações compartilhar informações sobre possíveis riscos de ataques em tempo real. Entenda como a ação dos piratas está mudando, e o que as Marinhas internacionais estão fazendo para combatê-la.

Berenice Baker: O que a OCEANUSLive faz?

Glen Forbes: A organização ajuda a superar as limitações das entidades marítimas preocupadas com as áreas de alto risco afetadas pela pirataria. Ao promover uma maior percepção do que acontece nessas áreas, a empresa busca melhorar a segurança do tráfego marítimo usando uma plataforma de compartilhamento de informação em tempo real.

BB: Todos já sabem da atividade dos piratas na Somália, mas que outras áreas de alto risco você identifica?

GF: A pirataria na Somália já é bem documentada, apesar dos erros constantes de informação em parte da mídia. Porém, as ameaças à segurança marítima estão aumentando na outra costa da África. A pirataria no Golfo da Guiné continua a crescer, e costuma ser mais violenta nos primeiros estágios do ataque.
A pirataria na Ásia, em particular no Estreito de Malacca, acontece já há algum tempo. Os esforços regionais levaram à cooperação entre as Marinhas, mas as ameaças prevalecem.
Na América do Sul,  especialmente na Colômbia, Venezuela, Guiana e Equador, os ataques ocorrem com menos frequência do que nas outras áreas de risco, mas continuam expressivos.
Nós contabilizamos entre 25 e 30 incidentes ao redor do mundo por mês em 2012.

BB: Você identifica alguma tendência nos ataques?

GF: Apesar de não observarmos nem analisarmos tendências, é evidente que houve queda na pirataria na costa leste da África, devido ao uso cada vez maior de escoltas armadas e patrulhas navais operando próximas à Somália.
Os piratas continuam a se movimentar em direção ao Estreito de Bab al Mandeb quando as monções chegam, e mais barcos à vela aparecem ao norte do Mar da Arábia e no Golfo de Aden. Essas pequenas embarcações são mais usadas, mas navios comerciais maiores, como navios de abastecimento, já foram atacados com menos sucesso.
No litoral oeste da África, os ataques buscam armazenar combustível para as gangues operando na região. Além disso, o Movimento pela Emancipação do Delta do Níger (MEND, na sigla em inglês), na Nigéria, apoia o sequestro de trabalhadores estrangeiros.

BB: Quais Marinhas estão envolvidas nas intervenções?

GF: Entre 25 e 30 Marinhas diferentes se envolveram em algum momento, sob o guarda-chuva da OTAN, da UE e das Forças Marítimas Combinadas. Há também Marinhas independentes como as da Rússia, Índia e China, para citar algumas – essas forças conduzem patrulhas no Golfo de Aden. Realizar essa tarefa no Oceano Índico é mais complicada para qualquer organização. Então a Ásia vem concentrando esforços de países como Cingapura, Malásia, Indonésia, Filipinas, e por aí vai.

BB: Como essas Marinhas estão respondendo em termos de patrulhas e uso de inteligência?

GF: A prorrogação do mandado da União Europeia para desmantelar operações piratas numa área até dois quilômetros dentro do território somali fez com que os piratas adaptassem seus métodos outra vez. Porém, ainda falta mostrarem como vão agir enquanto as monções sul-oeste continuam.
As autoridades militares estão usando o máximo possível de recursos e informações open source, e nem sempre dão o crédito a essas fontes, mas a OCEANUSLive é uma das provedoras mais confiáveis não apenas para entidades comerciais marítimas, mas também órgãos governamentais. Percebemos isso pelo crescimento das assinaturas do nosso boletim informativo por parte de representantes de várias forças navais.

BB: Quais novas embarcações e tecnologias estão sendo empregadas contra a pirataria?

GF: Há sempre a necessidade de novos equipamentos e tecnologias no ambiente marítimo. As Marinhas empregam graus diversos de poder naval, como corvetas, fragatas, contratorpedeiros e navios auxiliares, além do uso ocasional de navios-aeródromos pela Marinha americana. Aumentou também o uso de veículos aéreos não tripulados para reconhecimento e vigilância. Acrescente-se também as aeronaves de patrulha marítima, e temos uma rede muito mais ampla do que em anos anteriores.

BB: Na sua opinião, as forças navais estão preparadas adequadamente?

GF: Muitos membros da União Européia estão prontos para encerrar a participação nas patrulhas anti-pirataria na costa da Somália. É uma tarefa cara, e há essa noção de que os piratas estão em declínio. Em junho desse ano, apenas oito embarcações e 215 tripulantes foram feitos reféns, em comparação aos 23 navios e 501 pessoas sequestradas em junho de 2011
Percebeu-se que nenhum navio com escolta armada foi atacado. Durante muito tempo houve resistência ao uso dessas escoltas, por medo de que elas aumentassem a violência. Isso não aconteceu, e os piratas não tentam invadir navios que abrem fogo.
As preparações de cada Marinha variam de acordo com suas orientações. Algumas estarão mais de prontidão para o resgate, e outras alegam razões humanitárias para não agirem em todos os casos. A estrutura legislativa referente à pirataria como um todo também causa problemas, e ainda é difícil chegar a políticas internacionalmente aceitas. Até que haja consenso, as regras para ação cabem a cada Marinha, mesmo que estejam no bojo de uma única organização militar.

BB: Como a responsabilidade por rastrear a atividade pirata deveria ser dividida entre militares e entidades de segurança privada?

GF: Essa é uma questão controversa, e fala-se muito que o setor mercante deveria proteger a si mesmo. Se os ataques reduzem a quantidade de bens circulando, então a indústria deve compensar, seja com escoltas armadas ou melhorando a segurança a bordo dos navios.
No meio militar, há a noção de que a segurança privada está cheia de cowboys. O Reino Unido é um dos maiores fornecedores para esse setor, e muitos dos funcionários são ex-fuzileiros que desempenham o mesmo trabalho que desempenhavam como militares poucos meses antes. Sim, existem os cowboys, mas ainda há muitas empresas profissionais fazendo um ótimo trabalho.

BB: O que mais precisa ser feito no combate à pirataria?

GF: Nosso foco é o compartilhamento de informações, que é uma área pouco explorada. Existem muitas empresas de gerenciamento de risco e de segurança marítima, e também as Forças Armadas, e todos possuem informações próprias que precisam ser partilhadas.
A Organização Marítima Internacional (OMI) lançou no ano passado uma campanha de resposta à pirataria. Foi pedida a colaboração entre o setor mercante e o de segurança, mas a ideia ainda não tomou vulto.

FONTE: Naval Technology

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