Armada Argentina receberá mais um navio para a sua ‘Frota do Gelo’
Roberto Lopes
Exclusivo para o Poder Naval
Chegará à Base Naval de Mar del Plata, no próximo dia 1º de fevereiro, a mais nova embarcação da frota argentina: o navio de investigações científicas “Sonne” (“Sol”, em alemão), comprado pelo Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (CONICET) do Ministério da Ciência e Tecnologia argentino, em dezembro passado, à empresa germânica RF Forchungsschiffahrt GmbH, para reforçar as pesquisas em áreas marítimas defronte ao litoral sul do país.
O navio desloca 4.952 toneladas e foi construído em 1969, como um tênder para navios de pesca, adaptado para cumprir atividades oceanográficas em 1977. A partir desse momento, o “Sonne” realizou diversos levantamentos em águas geladas próximas à Islândia, à Groenlândia e à Península do Labrador, no leste do Canadá.
Em 1991 a embarcação foi completamente modernizada, com vistas a seu emprego em áreas longínquas dos Oceanos Índico e Pacífico.
Em agosto do ano passado o “Sonne” realizou a sua última travessia na região do Sri Lanka. Entre os dias 13 e 14 de maio de 2014 o barco recebeu, na Cidade do Cabo, a visita de funcionários do CONICET e da Prefectura Naval (guarda costeira) argentina, que percorreram suas instalações acompanhados do cônsul argentino na África do Sul, Carlos Rubio Reyna.
Ushuaia-Petrel – O governo argentino está, nesse momento, montando uma grande estrutura operacional nos mares austrais, com meios da Armada e da Prefeitura Naval, para garantir suas pesquisas sobre a vida marinha e as jazidas minerais do leito submarino situado entre as bases navais de Ushuaia – capital da Província da Terra do Fogo, Antártida e Ilhas Argentinas – e Petrel, localizada em uma península no noroeste da Ilha de Dundee, no Pólo Sul.
A preocupação é que navios militares britânicos baseados nas Ilhas Malvinas (Falkland, como os ingleses chamam) tentem impedir as missões científicas argentinas em águas vizinhas ao mar jurisdicional malvinense. Ushuaia está a 778 km de Port Stanley, a capital das Malvinas, e Petrel a pouco mais de 600 km.
É nesse eixo Ushuaia-Petrel que irão transitar os navios da chamada “Frota do Gelo” argentina: o quebra-gelos “Almirante Irízar” (Q5) , de 15.000 toneladas – que deve voltar a navegar em 2016 –; o navio oceanográfico “Puerto Deseado” (Q20), de 2.133 toneladas; os quatro super-rebocadores de construção polonesa recentemente adquiridos pela Armada Argentina a uma empresa russa – cada um deslocando 2.750 toneladas. E agora também o “Sonne”, que ainda será rebatizado pelos argentinos.
Apesar de a vistoria no navio ter sido feita por integrantes da Prefeitura Naval, o mais provável é que ele receba uma tripulação da Marinha – estimada, no momento, em 25 oficiais e subalternos – e não da Prefeitura. O navio tem capacidade de abrigar mais 25 cientistas em seus laboratórios.
O “Sonne” foi comprado por, aproximadamente, R$ 16 milhões. Sua aquisição pelo CONICET obedeceu a uma preocupação do governo Cristina Kirchner de não aparentar que estava adquirindo um reforço para a sua Marinha, já que o Tratado da Antártica, de 1959, proíbe, explicitamente, a militarização por qualquer meio do Pólo Sul.
Préstimos de guerra – Informações não confirmadas obtidas por parlamentares da Oposição argentina, dão conta de que o navio atracará em Mar del Plata – 410 km (por terra) ao sul de Buenos Aires – trazendo a bordo um minisubmarino modelo MARUM SEAL 5000.
Equipado com um moderno equipamento sonar, esse engenho é capaz de descer a profundidades de até 5 mil metros. Suas baterias lhe garantem 19 horas de autonomia, e ele é capaz de percorrer rotas de até 100 km.
Segundo as mesmas fontes, o “Sonne” pode realizar varreduras a grandes profundidades, o que, ao menos em teoria, o tornaria apto a detectar um submarino e armazenar a sua assinatura acústica (o governo britânico nunca deixa de insinuar que os seus submarinos cumprem, periodicamente, missões de patrulhamento ao redor das Malvinas).
Nos últimos meses, observadores de diferentes países (e até militares do Ministério da Defesa do Brasil que acompanham os assuntos argentinos) identificaram nos super-rebocadores comprados pelos argentinos, navios que, por terem sido projetados para movimentar plataformas marítimas de petróleo, poderiam, eventualmente, interceptar e rebocar plataformas marítimas que os argentinos desejassem evitar que alcançassem as águas malvinenses.
Outra embarcação acerca da qual paira a suspeita de que possa vir a ser adaptado para funções militares é o quebra-gelos “Almirante Irízar”, que foi tomado por um grande incêndio no primeiro semestre de 2007 e, desde essa data, vem sendo recuperado em estaleiros argentinos.
O “Irízar” teve seus porões e compartimentos de estudos científicos completamente refeitos. Estima-se que, mercê desse redesenho, a embarcação, que possui um grande convés de vôo – além de hangares –, possa transportar cerca de 400 militares completamente equipados.