O NAeL Minas Gerais

O NAeL Minas Gerais

A participação da Marinha do Brasil na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foi essencialmente antissubmarino, na escolta de comboios – atividade para a qual ela não estava preparada no início. A recém-criada Força Aérea Brasileira (1941), da união das aviações do Exército e da Marinha, também carecia de equipamentos no estado-da-arte.

Os navios da Esquadra Brasileira eram em grande parte ainda da Primeira Guerra Mundial, com poucos navios novos que também não eram adequados à guerra antissubmarino.

O Brasil foi pego de surpresa pela Guerra e sua Marinha Mercante e economia sofreram com os ataques de submarinos alemães e italianos ao nosso tráfego marítimo, responsável pela exportação-importação e pelo abastecimento do Norte e do Nordeste.

No início do conflito, o Brasil tinha dois encouraçados ainda da Esquadra de 1910, ambos obsoletos. O Minas Gerais tinha sido modernizado no período de 1934-39, passando a usar óleo ao invés de carvão em suas caldeiras. O São Paulo continuava movido a carvão.

Os cruzadores Bahia e Rio Grande do Sul tinham sido modernizados em 1925-26 e os sete contratorpedeiros, também veteranos de 1910, estavam em estado tão precário que foram desativados durante a guerra.

Os seis novos navios-varredores da classe “Carioca” acabaram sendo convertidos em corvetas antissubmarino.

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No início da Segunda Guerra, o Brasil tinha dois encouraçados ainda da Esquadra de 1910, ambos obsoletos. O Minas Gerais tinha sido modernizado no período de 1934-39, passando a usar óleo ao invés de carvão em suas caldeiras. O São Paulo (foto), continuava movido a carvão.

Em combate

Com a entrada do Brasil na Guerra em 1942, o país começou a receber uma série de navios novos construídos nos Estados Unidos da América (EUA), através da Lei de Empréstimos e Arrendamentos (Lend-Lease Program).

No final de 1942, foram recebidos os primeiros 8 caça-submarinos (Sub-Chasers) da classe “J”, de 108 toneladas e casco de madeira (conhecidos como “caça-pau”), equipados com sonar. Ao longo de 1943, foram recebidos 10 caça-submarinos classe “G”, de 335 toneladas, com casco de ferro (conhecidos como “caça-ferro”), equipados com radar, que era então secreto.

Entre 1944-45 foram recebidos 8 contratorpedeiros de escolta (CTE) classe “Bertioga”, de 1.500 toneladas, equipados com sonar e radar.

A Marinha dos Estados Unidos forneceu o treinamento das tripulações brasileiras e ajudou a forjar a doutrina de guerra antissubmarino que continuou a ser aperfeiçoada depois do término do conflito.

Caça-Submarino Graúna
Caça-Submarino Graúna

 

CTE_Beberibe
CTE Beberibe

O pós-Guerra

Com o fim da guerra, mudanças políticas fizeram surgir uma nova ordem, com repercussões no mundo inteiro.

A multipolaridade europeia construída no século XIX dava lugar à bipolaridade entre EUA e URSS, que emergiram como superpotências. O expansionismo soviético e a ocupação de grande parte da Europa por tropas da URSS, deram início à luta pela hegemonia mundial, principalmente depois do desenvolvimento de armas nucleares também pelos soviéticos e o processo de descolonização ao redor do globo, com o surgimento de vários Estados vulneráveis e influenciáveis.

O início da chamada Guerra Fria, estimulou a realização da Conferência Interamericana para Manutenção da Paz e da Segurança no Continente americano, em 1947, que levou à assinatura do Pacto do Rio de Janeiro ou Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), que no seu artigo 3º voltou a firmar a unidade dos estados americanos no caso de uma agressão externa, na esteira da Junta Interamericana de Defesa (JID), criada durante a Segunda Guerra Mundial, para tratar em conjunto de planos de defesa do continente.

Em 1948 foi criada a Organização dos Estados Americanos (OEA), para fortalecer o pan-americanismo e integrar as nações do continente sob a égide dos EUA.

Cruzador Barroso
Cruzador Barroso

O Programa de Ajuda Militar

O Brasil continuou tendo substancial ajuda dos EUA, através do Programa de Ajuda Militar (MAP – Military Aid Program), pelo qual o país recebeu a preços módicos, material excedente da Segunda Guerra, de navios a sobressalentes.

A concepção estratégica da Marinha do Brasil continuou a ter caráter defensivo, dedicada à guerra antissubmarino, integrada à grande estratégia dos EUA, de combate à ameaça submarina soviética ao tráfego marítimo, em caso de uma deflagração Leste-Oeste.

A Guerra Fria do bloco ocidental contra os países comunistas sob a liderança da URSS é o fator principal para o fortalecimento do Poder Naval brasileiro nesse período.

Nos primeiros anos após o término da Segunda Guerra, a Marinha dedicou-se especialmente às atividades de apoio, tanto na construção de bases navais como na aquisição de navios. As administrações do almirante Silvio de Noronha e do almirante Renato de Almeida Guillobel dispenderam grande esforço na ampliação e aperfeiçoamento da infraestrutura de apoio aos meios navais.

Os navios recebidos no período após a guerra, até 1952, com exceção dos cruzadores-ligeiros Barroso e Tamandaré, da classe “Brooklin” da U.S. Navy, remanescentes da guerra, eram navios auxiliares. Foram recebidos o navio-escola Guanabara, ex-veleiro alemão, o navio-tanque Ilha Grande, petroleiro adaptado de cargueiro “Victory Ship”, os pequenos navios-tanque Rijo e Raza para transporte de gasolina, cedidos pela USAF à FAB e depois para a MB e finalmente, três rebocadores de alto-mar da classe “Tristão”, ex-classe “Ata” da U.S. Navy.

Durante a gestão do almirante Renato Guillobel (1951-1954) foi criado um grande programa de aquisição de meios voltado para tarefas auxiliares da Marinha. Através dele foram adquiridas 10 corvetas (classe “Imperial Marinheiro” de patrulha costeira na Holanda, capazes de operarem também como rebocadores de alto-mar e navios mineiros).

Foram adquiridos também 4 navios de transporte de tropas no Japão, capazes de operar também como navios cargueiros no transporte comercial de carga e no apoio logístico e 2 navios hidrográficos modernos, Sirius e Canopus, que juntamente com os 3 pequenos navios hidrográficos classe “Argus”, construídos no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), vieram dar extraordinário impulso às atividades hidrográficas do país.

Cruzador Tamandaré escoltado por quatro contratorpedeiros da classe "Pará" (Fletcher)
Cruzador Tamandaré escoltado por quatro contratorpedeiros da classe “Pará” (Fletcher)

A partir de 1959, a Marinha do Brasil começou a receber da reserva da U.S. Navy, contratorpedeiros da classe “Fletcher”, num total de 7 navios.

Depois vieram 5 contratorpedeiros da classe “Allen M. Sumner” e finalmente 2 da classe “Gearing”, a grande maioria recebida durante a administração do almirante Adalberto Nunes (1970-74).

A partir de 1957 foram recebidos um total de 11 submarinos ex-U.S. Navy, sendo 4 unidades “Fleet Type”, 5 unidades classe “Guppy II” e 2 unidades “Guppy III”.

CTs
Contratorpedeiros Marcílio Dias (D25) e Alagoas (D36) liderando formatura na Operação UNITAS

Na década de 1960 foram recebidos 4 navios-varredores classe “Javari”, núcleo da Força de Minagem e Varredura então criada.

Em 1963, foi recebido um navio-oficina (NO Belmonte), um NDCC adaptado para apoiar os contratorpedeiros.

No início dos anos 1970, foram recebidos 2 navios de desembarque de carros de combate (NDCC), além de um navio-oceanográfico e um navio de salvamento submarino.

Conforme o acordo militar dos EUA, na década de 1950 o Centro de Adestramento Almirante Marques de Leão (CAAML – Camaleão) recebeu equipamentos para adestramento antissubmarino simulado e, em 1960, tiveram início as operações UNITAS, com a participação da Marinha dos EUA e outras Marinhas Sul-Americanas, com o propósito de treinar as forças navais desses países em operações antissubmarino conjuntas.

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Submarinos Ceará e Goiás das classes Guppy II e Guppy III respectivamente – Foto: DPHDM

Aviação Naval

O porta-aviões Minas Gerais era uma unidade moderna e atuou durante a Guerra Fria como núcleo de grupos de caça e destruição de submarinos, equipado com helicópteros antissubmarino da Marinha e aviões P-16 Tracker da FAB

Em 1957 o Brasil adquiriu à Inglaterra o Navio-Aeródromo Ligeiro (NAeL) Minas Gerais, ex-HMS Vengeance, modernizando o navio na Holanda até 1960 com apoio técnico americano. Graças ao apoio da U.S. Navy, o NAeL Minas Gerais foi equipado com o que havia de mais moderno em matéria de navios-aeródromo, garantindo a compatibilidade com aeronaves à jato e em operações conjuntas.

O navio-aeródromo visava principalmente ao emprego de aeronaves antissubmarino, nos moldes dos Grupos de Caça e Destruição (Hunter-Killer) da Marinha dos EUA, nucleados em porta-aviões.

A aquisição do NAeL Minas Gerais acirrou a disputa entre a Marinha e a Força Aérea sobre a aviação naval. A Nova Lei Orgânica da Marinha, promulgada em 1952, pela Lei 1.658, fazia ressurgir a ideia de uma aviação própria para a Marinha.

A disputa pela posse dos aviões do navio-aeródromo causou um desgaste desnecessário entre as forças e a questão só foi resolvida pelo presidente Castelo Branco em 1965, quando a FAB ficou responsável pela operação dos aviões embarcados e a MB pelos helicópteros.

P-16A Tracker no NAeL Minas Gerais
P-16A Tracker no NAeL Minas Gerais

Na era dos mísseis

Na aquisição do NAeL Minas Gerais a Marinha do Brasil resolveu dotá-lo de mísseis antiaéreos de curto alcance Sea Cat, de fabricação britânica. Seriam instalados 3 lançadores quádruplos de mísseis no navio, mas por medida de economia, somente um lançador foi adquirido, que acabou sendo instalado no antigo contratorpedeiro Mariz e Barros, construído no AMRJ. Posteriormente esse lançador foi transferido para o contratorpedeiro Mato Grosso, da classe “Allen M. Sumner”.

Seacat Mariz e Barros
Lançador de mísseis Seacat no contratorpedeiro Mariz e Barros

O Programa Decenal de 1967

O Programa Decenal de Renovação dos Meios Flutuantes aprovado em 1967, ainda refletia a preocupação da Marinha do Brasil com a guerra antissubmarino e com a proteção do tráfego marítimo brasileiro, devido à dependência do Brasil na importação de petróleo e na distribuição dos derivados ao longo da costa.

Os possíveis ataques ao tráfego marítimo brasileiro poderiam ocorrer através de submarinos ou de forma indireta, pela minagem de portos brasileiros com o emprego de submarinos e aeronaves de longo alcance.

Em caso de guerra revolucionária, previa-se o desembarque em zonas sob o controle de grupos guerrilheiros ou tropas sublevadas.

As ameaças aéreas e de superfície eram relegadas ao plano secundário.

O Programa Decenal compreendia aquisição das seguintes unidades:

  • 20 fragatas antissubmarino
  • 40 navios-varredores
  • 6 submarinos
  • 1 navio-doca
  • 1 navio de desembarque de carros de combate
  • 50 navios-patrulha
  • 5 navios-patrulha fluviais
  • 1 navio-hidrográfico
  • 1 navio-faroleiro
  • 10 navios-balizadores
  • 1 navio-tanque
  • 2 rebocadores
  • 1 navio de salvamento de submarinos
  • 1 navio de salvamento
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O Navio-Tanque Marajó é fruto do Programa Decenal de 1967

Uma diretriz fundamental do Programa Decenal era a nacionalização dos meios ou a diminuição do nível de dependência na manutenção e reparos, através da fabricação local de componentes e sobressalentes.

Em 1968, o AMRJ deu início à construção de 6 navios-patrulha costeiros baseados em projeto americano.

Ainda no Arsenal foram construídos, no período 1970-73, dois navios de patrulha fluvial de 62 metros, de projeto nacional.

Entre 1972-76, foram construídos três navios-patrulha de projeto nacional de 45 metros.

A construção dos navios de patrulha fluvial destinou-se também às missões de integração da região ao restante do país e de apoio às populações ribeirinhas.

No estaleiro Ebin, entre 1970-76, foi construído um moderno navio faroleiro.

No estaleiro Ishikawajima do Brasil foi construído o navio-tanque Marajó, incorporado em 1969.

F40 e F41 - Vosper Mk10
Fragatas Niterói e Defensora (Vosper Mk.10) em provas de mar na Inglaterra

Renovação da Esquadra

O Programa Decenal buscava a aquisição de equipamentos no estado da arte para os novos navios, mas as enormes dificuldades criadas pelos americanos para o fornecimento de sonares modernos e lançadores de foguetes antissubmarino levaram a Marinha a guinar para a Europa, que tratava a questão de forma puramente comercial sem interferências políticas, além da facilidade de financiamento.

Deste modo a Marinha encomendou à Inglaterra 6 fragatas modernas especialmente projetadas para atender às especificações brasileiras e três submarinos da classe “Oberon”, além de 6 navios-varredores da classe “Schutze” na República Federal da Alemanha.

Lançamento de míssil antissubmarino Ikara pela fragata União
Lançamento de míssil antissubmarino Ikara pela fragata União. Era o sistema mais moderno da época, levava um torpedo na barriga e tinha alcance de 18km

Das 6 fragatas conhecidas como classe “Niterói”, 2 acabaram sendo construídas no AMRJ com transferência de tecnologia. Quatro foram dotadas de pesado armamento antissubmarino, com mísseis, torpedos, foguetes e helicóptero embarcado e duas para emprego geral, equipadas com mísseis antinavio Exocet.

As fragatas inauguraram a computação em tempo real no Brasil e foram responsáveis pela introdução de várias tecnologias inéditas na maioria das Marinhas.

Submarino Humaitá - DPHDM
Submarino Humaitá da classe “Oberon” – Foto: DPHDM

Rompimento do acordo militar com os EUA e mudança estratégica

O governo do presidente Ernesto Geisel (1974-1979) provocou modificações no pensamento estratégico brasileiro, com repercussões na estratégia naval.

O espetacular desenvolvimento do país no período de 1967 a 1972, com taxa de crescimento anual média do PIB de 9,9%, conhecido como milagre brasileiro, acabou gerando antagonismos em relação ao Brasil, como na questão da política de fretes nacional, que reservava de 40 a 50% do nosso comércio exterior a navios de bandeira brasileira.

No âmbito regional, havia um conflito de interesses com a Argentina, com relação ao aproveitamento de rios sucessivos.

Embora mantendo a fidelidade ao sistema interamericano, o Brasil passou a olhar também para suas próprias áreas de interesse e começou a mudar sua visão estratégica.

A Marinha, de acordo com a nova postura governamental, adotou em fevereiro de 1977 novo conjunto de Políticas Básicas e Diretrizes, na gestão do almirante Geraldo A. Henning.

No novo documento, os pensadores navais viam uma possibilidade maior de conflitos regionais, com a ocorrência de guerras locais em determinadas regiões, do que a eclosão de uma guerra generalizada entre os dois grandes blocos antagônicos, considerada cada vez mais improvável, devido ao equilíbrio de forças e a destruição mútua assegurada com armas nucleares.

Em 1975, o Brasil assinou um acordo nuclear com a Alemanha para construção de usinas nucleares, com forte oposição por parte dos EUA e da URSS.

Em 1977, o Brasil denunciou o Acordo de Assistência Militar e fechou a Missão Naval Americana, dispensando toda ajuda militar dos EUA. O rompimento se deu por causa das exigências da administração Carter em condicionar a ajuda militar às questões de direitos humanos.

Apesar do rompimento no acordo de cooperação entre governos, as relações entre a Marinha do Brasil e a Marinha dos EUA mantiveram-se cordiais, inclusive com a manutenção da operação UNITAS.

Submarino nuclear USS Snook visitando o Rio de Janeiro durante operação UNITAS
Submarino nuclear USS Snook visitando o Rio de Janeiro durante operação UNITAS

A partir de 1977, a Marinha do Brasil pode formalizar a partir de documentação adequada, conforme a política governamental, o planejamento e o preparo da Força Naval de acordo com a nova visão estratégica.

Um novo programa naval foi traçado e previa a manutenção do NAeL Minas Gerais dotado de aviões de ataque, um navio de controle de área marítima, 8 fragatas (sendo 4 armadas com mísseis antiaéreos de defesa de área), 16 corvetas, 12 submarinos, 14 navios-varredores, 2 navios caça-minas, 2 navios de transporte de carga, 2 navios logísticos, 12 navios de patrulha costeira, 5 navios de patrulha fluvial, 4 lanchas de patrulha fluvial, 1 navio de apoio fluvial, 4 navios de salvamento, 1 navio-oficina, 1 dique flutuante, 2 navios de desembarque de carros de combate, 1 navio-doca, 1 navio-escola, 4 navios oceanográficos, 1 navios de pesquisas para operação na Antártica, diversos navios hidrográficos, faroleiros e balizadores.

Em 1979, o almirante Maximiano Eduardo da Silva Fonseca assumiu a pasta da Marinha e procurou manter o programa naval traçado e as diretrizes de nacionalização, assegurando financiamento externo para a construção das primeiras corvetas de projeto nacional, do navio-escola Brasil, de submarinos de projeto estrangeiro com construção no Brasil, do Programa Antártico e do Programa Nuclear da Marinha, que visava a construção de um submarino de propulsão nuclear no futuro.

Marinha do Brasil – 1980 (clique na imagem para ampliar)

Em março de 1984, o almirante Maximiano, após 5 anos na pasta da Marinha, foi substituído pelo almirante Alfredo Karam, que permaneceria no cargo até o fim do governo do general Figueiredo, mantendo total sintonia com as diretrizes do almirante Maximiano.

Com o processo de abertura política no Brasil, em 15 de março 1985 assumiu a presidência do país o vice-presidente José Sarney, escolhido pelo Colégio Eleitoral, pois o presidente eleito Tancredo Neves não pode tomar posse por motivo de saúde (ele veio a falecer no dia 21 de abril de 1985). José Sarney foi efetivado no cargo de março de 1985 a março de 1990.

O almirante Henrique Saboia assumiu a pasta da Marinha em 15 de março de 1985 e permaneceu até março de 1990, dando continuidade ao programa de construção naval no país, incentivando a indústria nacional através da fabricação local de equipamentos.

As dificuldades econômicas do período, por causa da inflação alta e cortes no orçamento, prejudicaram e atrasaram o programa de construção naval.

As quatro corvetas classe Inhaúma operando juntas
Das 16 corvetas classe Inhaúma programadas, apenas 4 ficaram prontas

A construção das corvetas Júlio de Noronha e Frontin no Estaleiro Verolme foi interrompida devido à moratória preventiva do estaleiro, levando a Marinha a terminar a construção no AMRJ.

A entrega da corveta Inhaúma deu-se em dezembro de 1989. A integração do sistema de armas se prolongou até 1991, quando teve início sua avaliação operacional.

O navio foi entregue com muitas pendências e imperfeições, que foram corrigidas posteriormente no projeto da corveta Barroso.

O projeto das corvetas previa a construção de 16 navios, mas devido à falta de recursos o número foi reduzido a 4, obrigando o almirante Saboia a adquirir 4 fragatas da classe “Garcia” ex-U.S. Navy, para cobrir a lacuna deixada pela baixa dos antigos contratorpedeiros.

Foram adquiridos também em sua gestão dois Navios de Desembarque Doca (NDD) da classe “Thomaston”, o Rio de Janeiro e o Ceará, abandonando-se o plano original de um NDD de construção local.

NDD Ceará
NDD Ceará

O fim da Guerra Fria

Em 15 de março de 1990, Fernando Collor de Mello, primeiro presidente eleito pelo voto direto após os governos militares – Tancredo Neves e Sarney foram eleitos por voto indireto – tomou posse na Presidência da República, tendo o almirante Mário Cesar Flores assumido a pasta da Marinha.

As acusações documentadas de corrupção no governo levaram o Presidente Collor a renunciar ao cargo em 29 de dezembro de 1992. O vice-presidente Itamar Franco assumiu a Presidência, cumprindo o dispositivo constitucional. O almirante Ivan da Silva Serpa assumiu a pasta da Marinha.

A dissolução da URSS em dezembro de 1991 e sua substituição pela Comunidade de Estados Independentes (CEI) acabou deixando os Estados Unidos da América como única superpotência.

A ameaça submarina soviética desapareceu e os EUA passaram a ter um grau maior de liberdade em sua política externa, envolvendo-se em vários conflitos desde então.

A Marinha do Brasil continuou dando andamento ao seu programa de construção naval, conforme os recursos disponíveis.

S30 DPHDM
Os submarinos da classe “Tupi” IKL209/1400 foram encomendados no final dos anos 1980 à Alemanha e entegues a partir de 1989. Quatro deles foram construídos no Brasil com auxílio técnico alemão

Abaixo seguem as palavras do almirante Mario César Flores, na exposição “A Marinha no Cenário Brasileiro Atual”, de 15 de maio de 1992:

“A Marinha se manteve nos últimos cinco decênios fiel à experiência da 2ª Guerra Mundial, centrada na proteção antissubmarino do tráfego costeiro, experiência continuada pela ameaça potencial soviética, muito viva no pensamento dos anos 50, 60 e início dos anos 70.

Com o passar do tempo, ganhou corpo o sentimento de que as concepções decorrentes da experiência da 2ª Guerra e da Guerra Fria já não bastavam.

O colapso da União Soviética e a implausabilidade da hipótese de guerra clássica na América do Sul sugerem ser diminuta a probabilidade de campanhas como as do passado.

Sugerem, portanto, menor necessidade de navios antissubmarino, espinha dorsal da Marinha do Brasil há 50 anos.

Hoje parece mais razoável enfatizar genericamente a defesa da fronteira marítima, cuja operacionalização exige bons submarinos (daí a importância que atribuímos à propulsão nuclear).

Ela comporta também alguma utilidade aos navios que dominaram a ótica anterior, os navios escolta, que são, aliás, os que melhor atendem eventual cooperação brasileira em patrulha e bloqueio para o controle da ordem marítima em áreas conflitadas – hipótese que o Brasil não pode ignorar. ”

BIBLIOGRAFIA:

  • VIDIGAL, Armando Amorim Ferreira. A Evolução do Pensamento Estratégico Naval Brasileiro, Rio de Janeiro, Biblioteca do Exército, 1985.
  • VIDIGAL, Armando Amorim Ferreira. A Evolução do Pensamento Estratégico Naval Brasileiro – meados da década de 70 até os dias atuais, Rio de Janeiro, Clube Naval, 2002.
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Miguel

Em todo este período, acho que as únicas embarcações que prestavam para alguma coisa foram as fragatas classe Niterói.

Carlos Alberto Soares

Ótima matéria, muito bom o texto e a cronologia. Muito boas as fotos.
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Destaco,
Em minha opinião, em que se leve em conta resultados, tivemos duas fases:
1) Antes da denúncia do acordo com os USA e depois e
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2) O acerto do acordo com os alemães para o 209.
____________________
Estamos falidos em termos de marinha de guerra ou defesa se preferirem.
Sinceramente,
não precisa de muito para acertar as coisas, mas …………………

americomatheus

O Minas Gerais com certeza era o mais belo dos porta aviões da classe Colossus que sobreviveram 2a guerra. Não sei se seria o mais funcional pois boicotaram os caças de asa fixa por toda a sua passagem na nossa marinha, quando concordaram de ter uma força aérea embarcada já era tarde, o navio estava obsoleto. Enfim, Brasil sendo Brasil.

João Alfredo Mothé

Ótima matéria !!

luiz campos

Viajando na maionese….não seria possível ter retirado a catapulta do MG e\ou SP e transformá-los em porta helicópteros apenas. Ao menos teríamos alguma coisa operacional.

Fred

A Marinha do Brasil teve uma “esquadra” de verdade nessa época inteira. Comparando com o atual momento de penúria, esses eram tempos áureos. Mas fica aqui um questionamento: Não teria sido mais por questão do contexto da Guerra Fria? Por uma necessidade dos EUA de que nosso país pudesse detectar os submarinos soviéticos? Inclusive a dotação de meios da esquadra não respeitaria essa questão? Quando olho pro Exército no período percebo as mesmas coisas. Ao longo de toda a Guerra Fria o EB não teve um MBT ou CC. Tinha os M-41, que serviam muito mais para intimidação que para… Read more »

Dalton

Luiz… o “MG” não teria durado muito mais e teria sido muito dispendioso continuar mantendo ele em serviço, e para operar como porta helicóptero nem é necessário retirar catapultas o que é importante é o navio poder navegar o que exigiria uma revitalização nas máquinas uma das propostas para se fazer no NAeSP quando e se o dinheiro surgir e também uma boa quantidade de helicópteros disponíveis para serem embarcados o que é outra coisa que a marinha brasileira não possui, então para embarcar alguns poucos helicópteros umas poucas vezes por ano não compensaria manter um navio tão dispendioso quanto… Read more »

Dalton

Fred… quando analisamos que no fim da década de 80 a espinha dorsal da marinha era constituída por 8 cts modernizados da segunda guerra mundial e nem todos modernizados igualmente, 4 fragatas classe “Garcia” que eram pouca coisa melhores diante de potenciais submarinos nucleares de ataque soviéticos, assim pensava-se na época e só mais tarde descobriu-se que a maioria de tais submarinos nem mesmo tinha condições de deixar a base fica difícil na minha opinião considerar o que a marinha brasileira tinha como “esquadra de verdade”. . Quanto à busca por material militar na Europa o que entendo é que… Read more »

edcarlos

O contexto político mudou completamente, claro que não devemos baixar a guarda. Não precisamos de uma Marinha de numerosos meios, precisamos de uma Marinha moderna e funcional, para enfrentar os desafios que possam se apresentar. Exemplos de despreparo de nossa Marinha não faltam, não estava preparada na segunda guerra, na crise da lagosta e não esta preparada agora. A MB não tem condições de responder prontamente e firmemente a qualquer adversidade que se apresente neste momento.

Textos como este faziam falta por estas bandas!

Saudações!

Defourt

Ótima e oportuna matéria!

MO

Esta materia irá ajudar a muios google/wiki warriors a entender certas coisas

em tempo:

Operação de um PCTC, pode-se ajudar a pensar em como um Ap log poderia ser util em operações a distância em operacionalidade funcional para transporte de nossa força de fuzileiros e principalmente seus equipamentos:

Vídeo + fotos

http://santosshiplovers.blogspot.com.br/2016/03/pctc-pegasus-highway-3fma4-video.html

Delfim Sobreira

Se conseguíssemos o quantitativo estipulado em 1977, com as belonaves no estado da arte atual e sem porta-aviões e sub-nuc, não estaria bom ?

Bardini

Se conseguíssem adquirir tudo que pretendiam no passado, o que teríamos hoje seria uma MB com muito mais meios ultrapassados, sucateados e sem condições de fazer dias de mar o suficiente para manter as tripulações adestradas.

johnatan warp drive

no regime militar tinhamos alguma coisa !

W.K.

Creio que, se não fossem os elefantes brancos que são o porta-aviões e o projeto do sub-nuc, certamente a MB teria mais recursos a disposição, o que permitiria manter tanto mais embarcações, como as mesmas em condições melhores.
.
Mas, esta é apenas a opinião de alguém que foi da cavalaria blindada no final do século passado…
.
PS:“Quem tem um não tem nada. Quem tem 2, se perde um pelo menos tem o outro.”
Frase de sabedoria dita pelo cara que emprestou um bujão de dreno para um amigo meu, depois de a gente quase afundar uma lancha.

Bardini

Tínhamos alguma coisa na época de D Pedro II. De lá pra cá, a coisa nunca mais se ajeitou…

Delfim Sobreira

Bardini, talvez tenha me expressado mal… falei de 8 fragatas modernas, 16 corvetas Barroso, 12 subs 209/216, 12 NPaOc, fora o resto.

jORGE KNOLL

-Adorei a matéria, muito esclarecedora, e demonstra uma era de auge da nossa briosa MB, que infelizmente hoje se vê encolhida, e reduzida poucas belonaves em condições de navegabilidade por falta de manutenção, reflexo da penúria por que passa atualmente. Recursos par investir, e modernizar-se, nem falar, se nos falta o essencial. Quisera que esse tempo de vacas magras logo passe, e retomemos o caminho do desenvolvimento, que necessariamente, deverá passar por um reestudo e redimensionamento da esquadra, para tanto, também a troca urgente dos comandantes, por mais preparados, e mais responsáveis que os atuais que não souberam dar o… Read more »

MO
Carlos Alberto Soares

MO 26 de março de 2016 at 14:22
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Belo vídeo e fotos.
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Pena não termos a ISUZU por aqui, ótimos veículos.
Tive um na España, não quebra ! (rs).

MO

Seria bom né … ja vinha ate cinza …. economia na tinta…. kkkkk

Carlos Alberto Soares

MO 26 de março de 2016 at 14:22
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Adaptado, dava um belo NDD.

Airacobra

MO, na época de minhas travessias diárias pela ponte Presidente Costa e Silva, sempre viajava na ideia de botar um convoo num navio desses, e o melhor de tudo como vc bem citou é que nem precisaria gastar dinheiro pra pintar pois ja eram cinza.

Augusto

Resumindo até desgraça do Geisel chegar no poder e assim como o PT começa com seus sonhos mirabolantes de protagonismo brasileiro, tínhamos uma Marinha decente e dentro da realidade, a MB era a Marinha chilena naquela época em relação a hoje , mas aí veio os militares nacionalistas e depois com a democracia o pensamento continuou o mesmo aí ficamos com a Marinha de merda q temos hoje

GuiAmaral

Ótima matéria. Lendo as palavras do almirante Mario César Flores me chama a atenção o fato de não ter ai nenhum espaço para um NAe. Por que será que a marinha se enveredou por esses caminhos? Se focar em escoltas e sub (nuc ou não) já seria de bom tamanho para tentar reverter esse quadro de penúria.

Caio Romão

Augusto 27 de março de 2016 at 15:11 mas aí veio os militares nacionalistas e depois com a democracia o pensamento continuou o mesmo aí ficamos com a Marinha de merda q temos hoje —————————————————————— Na verdade o imbecil do Geisel não era exatamente “Nacionalista”. Digamos que ele estava mais para “latino-nacionalista”. O canalha chegou a permitir que cinquenta mil soldados cubanos, armados até os dentes, e transportados por aviões da “Fuerza Aérea Revolucionária” fizessem escala em bases aéreas brasileiras rumo à Angola, onde perpetraram um massacre à milhares de angolanos inocentes para consolidar a ditadura socialista do partido MPLA,… Read more »

Carlos Alberto Soares

MO 27 de março de 2016 at 13:41
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Tinta nova e vazio. Ótimas fotos.

Wesley Sidney

Meu pai serviu no ct marcilio dias

Carlos Eduardo Oliveira

Servi no A11 de 89 a 94 (ex-CB-TL).
O navio já era velho e obsoleto nessa época, mas não pegava de jeito nenhum.

Luis Carlos Strini

Alexandre Galante, quero expressar meu contentamento pela excelente matéria postada, coisa rara nos dias de hoje, porem, gostaria de saber da possibilidade de uma nova postagem focando como está a nossa Martinha Brasileira nos dias atuais. O passado me fascina, mas o futuro me preocupa.

Fernando "Nunão" De Martini

Luis Carlos Strini, bom dia. . Estamos sempre publicando matérias atualizando os leitores a respeito da situação da Marinha do Brasil, no presente. . Ao menos em relação aos navios e submarinos da Esquadra (passando apenas muito rapidamente por alguns navios distritais, no caso do 1ºDN), esta matéria abaixo, de janeiro deste ano, dá um panorama sobre a situação da Marinha do Brasil hoje: . http://www.naval.com.br/blog/2016/01/23/fotos-a-esquadra-da-mb-neste-inicio-de-2016-na-base-e-no-arsenal/ . PS – vale lembrar que a matéria tem sido mantida para acesso na primeira página do site, no quadro que destaca as reportagens mais recentes feitas pelos próprios editores do Poder Naval, na… Read more »

Vader

Passando apenas para dar os parabéns ao Alexandre Galante pela matéria. Excelente. Digna da Trilogia de outros tempos. ___________ Como visto, graças aos EUA, e até a denúncia do Acordo de Assistência, tínhamos uma esquadra. Se não era a esquadra dos sonhos ao menos era poderosa o suficiente para nosso cenário periférico. O que eles se negaram a nos repassar poderíamos com facilidade ter adquirido de outras origens, como fizeram outras forças armadas. Aí vieram os boçais pseudo-nacionalistas-estatistas e depois os canalhas “democratas” e o resto é História. Mais de 30 anos de desgraça, ladeira abaixo, piorada – em muito… Read more »

MO

Trilogia .. argh este nome é horrivel tal como Amazonia Azul … kkkkk

Joselito

Galante meu camarada, excelente matéria, vcs realmente deram uma ampla visão saudosa de nossa briosa, parabéns. Servimos juntos na F-40? Acho que me lembro de vc, sou SO-RRm Joselito (MO), tive o prazer de sevir lá de 96 a 97. Abç

Gustavo Gonçalves júnior

Senti falta de informações sobre a aquisição do porta aviões São Paulo junto à França. Pelo que eu sei também já veio obsoleto. Teve até a cena tragicômica da fumaceira no pier Mauá, que impestiou o centro do Rio quando conseguiram dar partida aos motores. Ou o fato de que muitos que serviram no Nael cumpriram todo o tempo de embarcados no estaleiro, de onde ele só saía para curtos testes na baía de Guanabara. Faltou também citar o rebaixamento dos ministérios militares, subordinados a um ministério da defesa comandado por um civil. Esse downsizing tem custado um desaparelhamento de… Read more »

Luiz Monteiro

Prezado Galante,

Ótimo texto.

Os números presentes no Programa Decenal de 1967, principalmente o de navios escolta e submarinos, lembram muito o do último PRM de 2007, antes do PEAMB.

Abraços

AL

Parabéns pela fotos!!!! São poucas as fotos que se tem dos navios antigos da MB, especialmente os encouraçados, e a dessa matéria foi a melhor que eu vi até hoje!!!!!

Marçal Gomes Trindae

Parabéns pelo artigo! Lembranças do velho Cruzador Barroso, meu primeira navio!

Zé lesqui

Qual a diferença entre um navio varredor e um caca-minas? Pensava que fossem a mesma coisa.

Fernando "Nunão" De Martini

Varredor é geralmente mais simples e “varre” uma área ou “corredor” para limpar de minas. Caça-minas faz a busca ativa de minas com sonares e drones sumbarinos.

Mas isso é uma divisão já meio antiquada, pois a tendência tem sido unir ambos os tipos num navio só, chamado de “contramedidas de minagem”, que acaba sendo também mais sofisticado e caro.