Roberto Lopes junto os dois shelters de controle do radar

Roberto Lopes junto os dois shelters de controle do radar

Por Roberto Lopes
Especial para o Poder Naval
De Santa Vitória do Palmar (RS)

Em uma tarde do final de março passado, o Comandante da Marinha, almirante de esquadra Eduardo Leal Ferreira, à frente de uma plateia de aproximadamente 15 oficiais de alta patente da Força Naval, reunida nas dependências do Comando de Operações Navais (CON), no Rio, assistiu a uma exposição sobre o Radar OTH (Over the Horizon) 0100, de Vigilância Marítima, desenvolvido pela companhia paulista IACIT Soluções Tecnológicas, de São José dos Campos (SP).

O encontro foi organizado pelo vice-almirante da reserva Paulo José Rodrigues de Carvalho, ex-comandante da Força Aeronaval e atual consultor da IACIT para assuntos na área da Marinha.

Do grupo de sete oficiais de quatro estrelas que compõem o Almirantado, apenas o Secretário-Geral da Força, almirante Liseo Zampronio, e o diretor-geral de Pessoal, almirante Celso Luiz Nazareth, deixaram de comparecer.

A equipe da IACIT era chefiada pelo presidente da empresa, Luis Teixeira, que se fazia acompanhar de colaboradores de sua área técnica, como o diretor de Projetos da companhia, Gustavo de Castro Hissi.

No início desta semana, durante uma viagem de jornalistas ao sítio do Farol do Albardão, no extremo sul do país, onde o OTH foi instalado, Castro Hissi contou ao Poder Naval que sua companhia ficou agradavelmente surpresa com o interesse e a objetividade demonstrados pelos oficiais-generais nos predicados do radar.

Eis algumas das suas principais respostas:

Poder Naval – O que mais o impressionou no encontro com os quatro estrelas?

Castro Hissi – Sem dúvida o preparo deles para nos questionar acerca das características e das possibilidades do radar. Eles estavam muito preparados para nos perguntar sobre a capacidade do equipamento para rastrear um alvo com as dimensões tais, em determinada situação no mar… o que, na minha opinião, reflete a forte preocupação da Força com o assunto da detecção e do acompanhamento de embarcações longe das nossas costas.

PN – A equipe da IACIT respondeu a todas as perguntas?

Castro Hissi – Todas. A companhia adota uma postura muito rígida que é a da transparência; algo que a Força Aérea, nossa parceira mais antiga, já pôde conhecer. Os militares que se tornam nossos clientes, jamais estarão sujeitos a surpresas de última hora nos desenvolvimentos que conduzimos. Aliás, foi assim que o presidente da IACIT, Luiz Teixeira, abriu a conversa com a plateia: lembrando que já temos uma parceria muito ampla e bem sucedida com a Aeronáutica, e que estávamos ali para iniciar o mesmo tipo de relacionamento com a Marinha.

PN – Como o senhor sentiu que eles tratam, hoje, a questão do monitoramento de alvos à distância?

Castro Hissi – Eles trabalham muito com “fontes colaborativas”, e construíram essa sistemática de forma bastante eficiente. A preocupação é com as embarcações que vêm de alto mar, ou ingressam nas nossas águas para tocar um ponto qualquer do nosso litoral sem ativar o AIS [Automatic Identification Systemsistema de monitoramento que identifica as embarcações engajadas no tráfego ao longo da costa].

PN – O Comandante da Marinha gostou do equipamento que vocês apresentaram?

Castro Hissi – Acho que sim. Ao final da apresentação ele me disse que a operação do OTH é realmente muito mais econômica que o controle de alvos marítimos feito por satélites.

PN – Alguma reação da plateia o surpreendeu?

Castro Hissi – Bem, teve um almirante que ainda quando explicávamos os préstimos do radar foi direto: “E quanto é que isso custa?” Eu passei a palavra para o presidente da empresa, porque a minha área é a técnica… (rindo) O Teixeira prometeu passar uma proposta para a Marinha, que deve estar sendo preparada…

PN – O seu colega da área de Marketing e Vendas nos disse que o OTH já exigiu, de parte da IACIT, um investimento de 17 milhões de Reais. Por meio dessa informação nós podemos fazer uma estimativa do valor de comercialização de um equipamento?

Castro Hissi – Não. Não é possível fazer assim, porque o valor da venda do radar precisa incluir todo o serviço que o cliente deseja que o equipamento execute…

PN – E o desenvolvimento do OTH 0100 pode ser considerado pronto?

Castro Hissi – Também não. Nesse momento planejamos nos empenhar no desenvolvimento do sistema processador do radar, que hoje é da marca israelense Elta. Queremos ter o nosso. Aliás, é preciso dizer que o algoritmo que roda nesse sistema já é um desenvolvimento nosso. Acreditamos que em mais 18 meses poderemos obter o processador.

PN – A cooperação da Marinha, que permitiu a instalação do OTH no sítio da Praia do Cassino, viabilizou que tipo de comprovação técnica?

Castro Hissi – O projeto OTH resultou de muita transpiração associada a muita criatividade. Mas a instalação do radar nesse ponto remoto do litoral permitiu que verificássemos a resistência do equipamento a um ambiente inóspito, sujeito a variações de amplitude térmica, ventos e até tempestades.

PN – E no que a Marinha ainda pode contribuir com a IACIT para a continuidade do desenvolvimento do Radar OTH?

Castro Hissi – Bem, nós fizemos a nossa validação do equipamento, mas acreditamos que Marinha vá querer fazer a validação dela, disponibilizando uma corveta ou outro navio desse porte para figurar como alvo, ou mesmo aproveitando a realização de alguma operação naval com marinhas amigas.

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XO

A DGDNTM já acompanhava esse projeto…

JT8D

Que sigla bacana, gastaram quase todo o abecedário aí …

Jorge F

Sr Roberto Lopes, gostaria se possível de um contato no e-mail de cadastro… Interesse no projeto…

JT8D

Só uma observação, o sobrenome correto do engenheiro citado é Hissi, com H

Vovozao

Pelo que entendi a nossa Marinha, não estava a par dos.testes realizados na praia do Casino. É isso???

JT8D

Ora, se as instalações pertencem á MB, é óbvio que a Marinha sabia

Leonardo Araújo

Foi dada a oportunidade da empresa efetuar suas próprias validações e ajustes, para posteriormente a MB elaborar seus próprios testes.

Foxtrot

O bom é que quando completamente operacional e adquirido pela MB os contêiner,s que suportam os operadores e computadores poderão ser enterrados a metros do solo e a distância das antenas. Minimizando assim uma provável destruição em um ataque aéreo ou de saturação por mísseis em um provável conflito. Em outro tópico sobre o OTH-0100, houve grande clamor dos fóristas para adoção desse equipamento. Será que nossos alt,s leram os post,s ? Será que alguém do MD está atento as inovações nacionais? Almirantes visitando empresa para adquirir equipamentos. Precisamos urgente de um MD realmente operacional e capaz, que tenha um… Read more »

XO

“Precisamos urgente de um MD realmente operacional e capaz, que tenha um departamento exclusivo para aquisição de equipamentos” – a SEPROD existe para isso…
“Onde o EB desenvolve um, a MB outro e a FAB outro, sem cooperação e ou mesmo troca de experiências entre os centros de P&D das FAA,s” – a interação vem ocorrendo desde o segundo semestre de 2016, por meio da Parceria Interforças em.CT&I…

Matheus de Oliveira

OTH-0100, radar Bradar M-60 e M-200, sistema ASTROS 2020, Mansup, A-Darter, dá para projetar vários sistemas de defesa e ataque, desde antiaéreos à ataque naval, só faltaria cobertura por satélite. Tecnologia nós temos, só não temos interesse político em integrar essas tecnologias, preferimos comprar o pronto, exigindo transferência de tecnologia sensível que ninguém vai dar! Uma regra importante do comércio é a de exportar sempre e importar apenas quando necessário, países industrializados fazem isso, nós também podemos!

Marcos Borges

Existe um pequeno problema para que isso se concretize chama-se grana, Money, bufunfa e etc…

Top Gun Sea

É importante ressaltar que uma empresa de tecnologia como essa que está iniciando um grandioso projeto de ponta possa sim receber apoio das forças armadas, incentivos e contratos para que essa empresa genuinamente brasileira possa firmar se no mercado de defesa, construindo por exemplos radares embarcados, antenas e sensores de última geração e se tornar uma gigante em tecnólogia nacional em defesa.

Mateus

Não seria a hora de dotar a costa brasileira com mísseis navais? Esse radar poderia guiar um Exocet Block III ou um AV-TM 300?

JT8D

Se você ler os comentários dessa reportagem e principalmente da anterior vai descobrir a resposta. Mas eu vou resumir para você: não

Alexandre

Pq n da logo a resp ,povo gosta de dar sermão

JT8D

Só estou recomendando ao amigo que leia os comentários da reportagem anterior, muito bons por sinal. E dei a resposta, é não, esse radar não serve para guiar mísseis

Jec

porque povo não gosta de ler! simples assim. brazilzilzil

Gilbert

Eu acredito que o mínimo seriam +3 OTHs
1 no extremo norte do País
1 na foz do rio Amazonas
1 na nova base e estaleiro de submarinos da MB
Outro lugar poderia ser também em Fernando de Noronha, afim de proteger a fauna e a flora marinha possível pesca.

USS Montana

Aos poucos o Brasil vai se reestruturando, se não houver mais desvios e propinas por aí, tudo pode dar certo.

Marcos Borges

Se o povo, incluindo nós, não eleger mais ninguém da esquerda, quem sabe?

Foxtrot

XO 22 de junho de 2018 at 5:26 “Precisamos urgente de um MD realmente operacional e capaz, que tenha um departamento exclusivo para aquisição de equipamentos” – a SEPROD existe para isso… “Onde o EB desenvolve um, a MB outro e a FAB outro, sem cooperação e ou mesmo troca de experiências entre os centros de P&D das FAA,s” – a interação vem ocorrendo desde o segundo semestre de 2016, por meio da Parceria Interforças em.CT&I… Caro XO, não vejo essa SEPROD adquirindo o coordenando aquisições de equipamentos comuns as 3 forças. Como por exemplo, fuzis, capacetes, coletes táticos, balísticos,… Read more »

Flanker

O que a MB e EB tem a ver com A-Dater, MAR-1 e SMKB? Pra usar em wual vetor dessas Forças? Versão naval da família Saber? Pra comprar quantos? Meia-dúzia? Pra colocar em quais navios da MB? Querem que desenvolvam tudo aqui. Mas, qual a demanda que existe e que justifique um investimento de grande quantidade de dinheiro? Sou a favor de desnvolvimento autóctone de sistemas e meios pontuais, onde a demanda justifique o investimento. Um fuzil, que fosse adquirido de forma massiva pelas 3 Forças, mas que fosse realmente eficaz, funcional e resistente. Características que parece que o IA-2… Read more »

XO

A interação não existia até 2016… as coisas estão caminhando em projetos menores do que os que você citou… e antes de mais nada, a incorporação de uma Força no projeto de outra Força, já iniciado ou não, depende da necessidade e adequação ao planejamento… a MB precisa do A-DARTER, por exemplo ? Nós sempre tivemos conhecimento do pólo de CT&I do EB, seu comentário está incorreto… Com relação à integração dos centros, nós já compartilhamos a nossa infraestrutura com o EB… a FAB é mais difícil, pois eles estão em SJC… e digo mais, temos pessoal cursando no IME… Read more »

Gustavo

bom demais!!!

Juvenal Santos

Esse radar tem tudo para dar certo, o único problema que vejo é que está no país errado, fora isso, é coisa grande e avançada, de primeira mesmo, tomara que não percam essa oportunidade.

Leandro_O.

Parabéns aos desenvolvedores desse projeto… Espero q não falte investimento por parte do governo Federal, para dar continuidade ao aprimoramento de tal equipamento. Já que este está pratimente pronto.
Vixi eu estou por fora… Nem sábia que existia tal tecnologia. Ainda mais sendo desenvolvida no Brasil. Pra mim a curvatura da Terra éra o limite imposto a radares baseados em terra…

Bosco

Eu jurava que o radar já era da Marinha do Brasil!
Fiquei boiando!!

nonato

Reitero. Tecnologia não é nada do outro mundo. Basta algumas pessoas com um nível mínimo de conhecimento, um pouco de criatividade, espírito empreendedor e algum dinheiro. Acredito que o princípio desse radar seja a reflexão das ondas curtas na ionosfera, principio já utilizado por rádio amadores há décadas. Parabéns à empresa. Gostei da objetividade do cara da MB. “Cara, vamos para o que interessa. Quanto é isso aí?” Engraçado a empresa. Uai, vamos estudar. Nem tínhamos pensado nisso ainda. Um milhão? Dois milhões? Talvez 500 mil… Acredito que muitas empresas começam assim. Com vontade de desenvolver e nem pensam muito… Read more »

JT8D

Tecnologia só é simples para entusiastas. Ganhar dinheiro com tecnologia é que é complicado. Existe uma definição bem interessante para “engenheiro”: um cara que é capaz de fazer com X dólares o que qualquer um conseguiria fazer por 10X.
Simples é plantar soja, exportar minério e dar palpite, especialidades dos brasileiros

nonato

Para leigos tecnologia é muito difícil.
Só países e empresas de primeiro mundo tem.
Os demais devem só assistir e ficar dizendo que é difícil, que é caro, que não podemos, que custa bilhões e bilhões…