Escoltas novos versus escoltas de segunda-mão
A Marinha do Brasil conta hoje com 14 navios escolta (se considerarmos a corveta Barroso), sendo 6 fragatas da Classe “Niterói”, 3 fragatas da Classe “Greenhalgh”, 4 corvetas da Classe “Inhaúma”, e a corveta Barroso, que em breve estará 100% operacional.
O atual Comandante da Marinha considera como número ideal para a Marinha do Brasil, entre 12 e 16 navios escolta. Com exceção da “Barroso”, todos os demais navios escolta serão retirados do serviço ativo até o ano de 2025. Dessa forma, torna-se imperativo um planejamento visando à substituição desses meios navais.
Surge então o dilema que está presente em todas as marinhas que contam com orçamentos reduzidos: O que seria melhor, obter esses meios por construção ou a aquisição por oportunidade de navios escolta?
Durante a “Guerra Fria”, as principais marinhas do mundo possuíam grande quantidade de meios, e estes eram retirados de serviço, em média, com duas décadas de utilização, o que garantia uma vida residual de cerca de 20 anos, possibilitando assim que marinhas com orçamentos reduzidos adquirissem esses meios.
Com o fim da “Guerra Fria”, os tradicionais fornecedores de navios de “segunda-mão” reduziram drasticamente o número de escoltas em seus inventários. Além disso, passaram a utilizar esses meios por 30 ou mais anos, criando uma espécie de escassez de meios disponíveis no mercado.
Por outro lado, os escoltas novos, devido a sua grande sofisticação, possui um custo de aquisição bastante elevado, fazendo com que as marinhas com orçamentos reduzidos não consigam construí-los em quantidades adequadas às suas necessidades, ou então são obrigadas a subarmá-los.
O atual Programa de Reaparelhamento da Marinha (PRM) prevê a obtenção, por construção, de 6 navios escolta com 6.000t de deslocamento até o ano de 2025. Esse número é claramente insuficiente para substituir os 13 navios que serão desincorporados nesse período. Dessa forma, a Marinha do Brasil estuda a possibilidade de se construir mais algumas unidades da corveta “Barroso” com algumas modificações.
A obtenção de meios por construção, apesar de possuir um elevado custo inicial (aquisição), possibilita à MB desenvolver um meio adequado ao Teatro de Operações (TO) em que iremos atuar. Esses meios possuem um custo operacional menor em relação as unidades mais antigas, uma vez que o intervalo entre as docagens é consideravelmente maior em relação aos meios mais antigos.
Além disso, a construção desses meios no Brasil gera empregos e capacitação de mão de obra. Proporciona também uma padronização de sistemas, sensores e de armas reduzindo os custos com a “logística”.
Contudo, com a atual crise econômica mundial, parece inevitável o corte nos orçamentos. Isso pode levar a MB a considerar a obtenção por oportunidade de escoltas que estarão sendo desincorporadas em suas Marinhas. Surge então algumas questões: Quais meios estarão disponíveis para obtenção na próxima década? Qual a vida útil residual desses meios? Qual o nível de padronização desses meios, com relação a possíveis navios construídos no Brasil? Eles são adequados ao nosso TO?
A obtenção de meios por oportunidade não possibilita uma grande padronização, uma vez que a quantidade de meios adquirida de uma mesma classe é pequena, o que obrigaria a MB a adquirir de 4 a 6 unidades de 2 ou 3 classes diferentes.
Muito se fala na obtenção de fragatas do Tipo 22 B3, ou então do Tipo 23 operadas pela RN. Contudo, segundo fontes inglesas, as Type 22 B3 só estariam disponíveis para venda a partir do ano de 2014. Nesta data, elas teriam cerca de 25 anos de uso e, portanto, uma vida residual de cerca de 15 anos. As Type 23 são um pouco mais novas, todavia, com o atraso na construção de seus sucessores, fica cada vez mais evidente que a RN irá mantê-las ainda por bastante tempo em seu inventário.
As fragatas da Classe “Bremen” operadas pela Marinha da Alemanha serão desincorporadas a partir de 2011, e terão quase 30 anos de uso. Outra possibilidade seriam os contratorpedeiros franceses das classes “Georges Leygues” e “Cassard”, contudo, os primeiro terão quase de 40 anos de uso, e os últimos cerca de 30 anos.
Os mais desejáveis, porém fora da realidade orçamentária da MB, seriam os contratorpedeiros estadunidenses da classe “Arleigh Burke” F1. Mesmo que os americanos concordassem em repassar esses meios para MB, o número de unidades ficaria restrito a 2 ou 4 (o mesmo número de “Spruance” oferecidos no início dessa década).
Para a Marinha do Brasil, o ideal poderia ser a obtenção de meios por oportunidade, ao mesmo tempo em que se constroem algumas unidades no AMRJ. Contudo, deve-se buscar ao máximo uma padronização entre os sistemas, os sensores e as armas dos meios novos e de “segunda-mão”, a fim de minimizar os custos logísticos.
AUTOR: Luiz Monteiro (LM) / FOTO do ALTO: DoD Imagery
NOTA do BLOG: Este texto é mais uma excelente colaboração do amigo e leitor “LM”. Pelas informações que nos são passadas, conclui-se que a janela de oportunidade para aquisição de meios de segunda-mão está se fechando para a MB. Urge portanto que nossas autoridades ajam, para que a capacidade de construção de meios navais no Brasil, conquistada com tanto esforço, tempo e dinheiro, não se perca.