1822             -                NAVIOS DE GUERRA BRASILEIROS            -               Hoje

Chefe-de-Esquadra

Augusto João Manuel Leverger

Barão de Melgaço

 

 

O Chefe-de-Esquadra Augusto João Manuel Leverger, era filho de Mathurin Miguel Leverger e de Dona Regina Corbes, nasceu em St. Malo, França, 30 de janeiro de 1802.

 

Veio para o Brasil, em companhia de seu pai, em 1819. Em janeiro de 1820, embarcou na Escuna Angelique como imediato.

 

Tendo prestado relevantes serviços como piloto e imediato da Corveta General Lecor, dirigiu, a 25 de outubro de 1824, uma petição ao Imperador, pedindo sua admissão na Marinha de Guerra do Brasil como 1º Tenente. A petição juntou um certificado de aproveitamento, tendo dado "bastantes provas dos seus conhecimentos teóricos e práticos", assinado pelo então Capitào--de-Fragata José Pereira Pinto.

 

Mandada a petição ao Almirante Rodrigo José Ferreira Lôbo, comandante da Força Naval no Rio da Plata, nas informações prestadas, Rodrigo Lôbo, confirmou as qualidades atestadas por Pereira Pinto, o que permitiu o ingresso de Leverger na Marinha de Guerra do Brasil, a 10 de novembro de 1824, no posto de 2º Tenente de Comissão. Confirmado no posto por um decreto de 26 de maio de 1825.

 

Tomou parte na Campanha Cisplatina, tendo assumido o comando da corveta General do Rego, ex-corsária Argentina Gobernador Dorrego em 24 de agosto de 1828, quando foi capturada pela Corveta Bertioga, Brigue Caboclo e pela Escuna Rio da Plata.

 

Nomeado para o Arsenal de Marinha de Mato Grosso, então em organização, chegou a Cuiabá em 23 de novembro de 1830 e ali permaneceu até 1834, esquecido, à mingua de recursos e sem percepção de seus vencimentos. Apesar de inúmeros oficios endereçados ao Ministro da Marinha, não via satisfeitos os seus pedidos de numerário para fazer face às despesas da construção de seis Canhoneiras de que fora encarregado, assim como, do necessário à sua subsistência.

 

Em 1834, conseguiu ordem de regresso ao Rio de Janeiro, onde recebeu os proveitos atrasados, e, em face de seu mau estado de saúde pediu e obteve uma licença de um ano, com vencimentos. Esgotado esse periodo pediu e obteve nova licença, dessa vez pelo prazo de seis meses, sem vencimentos e com a obrigação de goza-la dentro do Imperio.

 

"Com surpresa sua, mas sem articular a menor queixa, nem reclamar, por Decreto de 6 de outubro de 1836, foi reformado no mesmo posto, sem soldo, já por não ter tempo de reforma, já por ser estrangeiro não naturalizado”.

 

Com o tratado de navegação dos rios platenses, firmado entre o Brasil, Paraguai e Uruguai, fazia-se mister, ter o governo brasileiro elementos na província de Mato Grosso. Pelos profundos conhecimentos de toda aquela região, adquiridos pelo 1º Tenente Leverger, fizeram-no pessoa necessária.

 

Assim é que em Aviso de 4 de julho de 1837, foi nomeado para comandar as Canhoneiras que se achavam naquela província, percebendo os vencimentos que lhe competiam como serviço ativo e ficando sem efeito o ato que o reformara.

 

Por decreto do Imperador referendado por Cândido José de Araújo Viana em 18 de junho de 1841, enquanto Capitão-Tenente da Armada Nacional e Imperial, recebeu a mercê do Hábito da Ordem da Rosa e licença para usar sua insígna. Já Capitão-de-Fragata, foi promovido a oficial da mesma Ordem em 10 de dezembro de 1844.

 

Devido a seu conhecimento da província de Mato Grosso, foi nomeado Cônsul-Geral do Brasil em 1839 para estabelecer boas relações com o Paraguai, sobretudo no tocante à navegação do Rio Paraguai e ao estabelecimento de fronteiras. Aceitou este cargo somente em 1843.

 

Em 1843 casou-se com Inês de Almeida Leite.

 

Várias vezes retornou a Mato Groso, desempenhando as mais importantes missões, promovendo acurados estudos hidrográficos. Chegou mesmo a ter o apelido de Bretão de Cuiabá!

 

Em 9 de Junho de 1857, o Imperador D. Pedro II como Grão-Mestre da Ordem de São Bento de Avis o nomeou, em atenção a seus serviços militares, Comendador da Ordem - era então Chefe-de-Divisão; o decreto está referendado pelo marquês de Olinda. Em 22 de setembro de 1857, o Imperador o nomeou Vice-Presidente da Província de Mato Grosso, em decreto igualmente referendado pelo Marquês de Olinda. Mais tarde, já Chefe-de-Esquadra reformado, o Imperador lhe concedeu em 1º de Outubro de 1857 permissão para continuar a residir na Província.

 

Em 2 de Outubro de 1865, do Palácio da vila de Uruguaiana, e em atenção “a seu distinto merecimento e patriotismo”, o Imperador o nomeou Presidente da Província em substituição a Manoel Pedro Drago. Três anos depois, do Palácio do Rio de Janeiro em 28 de Junho de 1868, o Imperador o nomeou Presidente da Província por segunda vez, em decreto referendado por Paulino José Soares de Sousa.

 

Já cientista, empregou sempre todos os seus esforços para o bom nome da administração, enfrentando com denodo e galhardia a invasão paraguaia, durante a guerra com o governo desse país.

 

Quando da Guerra do Paraguai, lutou no Forte de Coimbra e fez erguer as Fortificações de Melgaço para proteger Cuiabá do avanço das tropas de Solano López. Por ter impedido que as tropas invasoras atingissem a capital mato-grossense e devido ao seu envolvimento na guerra, foi consagrado herói.

 

Em carta de agradecimento ao Imperador D. Pedro II (1840 - 1889) por ter recebido o título de barão, escreveu: "... peço a V. Ex. o obséquio de tratar da obtenção do diploma, brasão, etc., pois não tenho tempo nem facilidade de imaginar coisa alguma a esse respeito. Ministrar-lhe-ei as seguintes verídicas informações. Não sei a significação nem a etimologia de Melgaço. É o nome de uma série de colinas que bordam o Rio Cuiabá, distante vinte léguas ..."

 

Deixou respeitável bagagem cientifica, destacando-se os trabalhos hidrográficos de quase toda a província, o Dicionário Geográfico da Província de Mato Grosso e o Mapa Geográfico, Cronológico e Estatístico da Província de Mato Grosso.

 

Possuia os seguintes galardões: Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro, 1828; Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa, 1840; Oficial da Imperial Ordem da Rosa, 1842; Comendador da Ordem de São Bento de Aviz, 1857; e Barão de Melgaço, 1865.

 

Naturalizado brasileiro, 1842.

 

Faleceu, em Mato Grosso, em 14 de janeiro de 1880.

 

Após a sua morte fizeram-se vários projetos para publicar a sua obra, o que, no entanto, nunca ocorreu. No governo de Manuel José Murtinho em Mato Grosso, um monumento foi erguido sobre o seu túmulo no Cemitério da Piedade, em Cuiabá.

 

Obras de Augusto Leverger:

 

- Observações sobre a Carta Geral do Império.
- Apontamentos do Capitão de Fragata Augusto Leverger sobre o Rio Paraguai.
- Apontamentos Chronológicos da Capitania de Matto-Grosso.
- Apontamentos para o Diccionário Chorografico da Província do Mato Grosso. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVII, Partes I e II, 1884. p. 307-504.
- Apontamentos sobre Eleições na Província de Mato- Grosso.
- Diário Privado do Chefe de Esquadra Augusto Leverger relativo aos meses de Janeiro, Fevereiro e Março de 1865.
- Breve Memória relativa à Corografia da Província de Matto-Grosso.
- Breve Resumo da Vida do Barão de Melgaço, Quanto à Parte Econômica, Escrita por ele mesmo.
- Carta Chorográfica do Distrito de Miranda, na Província de Matto-Grosso.
- Carta Geográphica da Província de Matto-Grosso.
- Apontamentos Avulsos.
- Carta Hidrográfica do Rio Sepotúba.
- Carta de um Reconhecimento no distrito de Miranda, na Província de Matto-Grosso.
- Carta e Roteiro da Navegação do Rio Cuiabá desde o Salto até o Rio São Lourenço e deste último até a sua Confluência com o Paraguai.
- Condições Administrativas da Província de Matto-Grosso, Apresentadas em Relatório de 13 de Janeiro de 1852 ao Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império.
- Derrota da Navegação Interior, da Vila de Porto Feliz, de São Paulo, à Cidade de Cuiabá.
- Diário do Reconhecimento do Rio Paraguai desde Assunção até o Rio Paraná.
- Diário e Roteiro de Viagem feita desde a Cidade de Assunção no Paraguai até Baía Negra.
- Dicionário Geográphico de Matto Grosso.
- Documentos Oficiais Portugueses e Espanhóis relativos a Limites do Império na Província de Matto-Grosso.
- Esboço Hidrográfico, em Grande Escala, desde a Foz do Rio Miranda até o Paraguai.
- Esboço do Rio Cuiabá desde a Confluência do Rio São Lourenço até à Cidade daquele nome, Capital de Matto-Grosso.
- Exame de um parte do Rio Paraguai, entre a Foz do São Lourenço e o Paralelo 17º.35' e das Lagoas Uberava e Guaíba.
- Índios da Província de Matto-Grosso.
- Informação Prestada ao Ministro da Marinha em 1851, sobre as Matas de Madeira de Construção Naval.
- Informação Prestada em 1851 sobre o Traçado de uma Estrada que Comunique esta Capital com a Cidade de Santarém, no Pará.
- Mapa da Fronteira Sul da Província de Matto-Grosso.
- Mapa Geográphico, Chronólogico e Estatístico da Província de Matto-Grosso.
- Memória sobre o Rio Paraguai, desde Nova Coimbra até Assunção.
- Notícia sobre a Província de Matto-Grosso.
- Observações sobre a Carta Geográfica da Província de Matto-Grosso.
- Planta Hidrográfica das Lagoas Uberava e Guaíba e da Porção do Rio Paraguai até a Foz do Rio São Lourenço.
- Roteiro da Navegação do Rio Paraguai, desde a Foz do Sepotuba até o Rio São Lourenço.
- Roteiro da Navegação do Rio Paraguai desde a Foz do São Lourenço até o Paraná.
- Tabelas de Latitudes e Longitudes de Diversos Lugares da Província de Matto-Grosso, determinadas por Observações Astronômicas.

 

 

Um dos mais antigos relatos de OVNIs publicados no Brasil deve-se a Leverger. Em 5 de julho de 1846, a bordo da barca-canhoneira Dezoito de Julho, que seguia para o Paraguai, acompanhada da Vinte e Três de Fevereiro, ele observou um fenômeno incomum nos céus. O relato do que viu foi publicado na edição da Gazeta Official do Império do Brasil de 26 de novembro de 1846, vol. I, n° 74, p. 295:
“          Na expedição das canhoneiras de Cuiabá para a cidade de Assunção, no comando do Capitão-de-Fragata Augusto Leverger, observou este um extraordinário fenômeno meteorológico que descreve da seguinte maneira: Observei esta noite um fenômeno como nunca antes vira. Às 5h57min, estando o céu perfeitamente limpo, calma, termômetro 60º F [o equivalente a 15º C], um globo luminoso com instantânea rapidez descreveu uma curva de como 30º, ao rumo de NNO. A direção fazia com o horizonte ângulos de, aproximadamente, 75º e 105º o agudo aberto pelo lado oeste. Deixou subsistir uma faixa de luz de 5 ou 6° de comprimento e 30 a 35° de largura, na qual distinguiam-se três corpos cujo brilho era muito mais vivo que o da faixa, e igualava, se não excedia, em intensidade, o da lua cheia em tempo claro. Estavam superpostos e separados uns dos outros. O do meio tinha a aparência quase circular; o inferior parecia um segmento de círculo de 120º com os raios extremos quebrados; a forma que apresentava o de cima era de um quadrilátero irregular; a maior dimensão dos discos seria de 20 a 25°. Enfim acima deles via-se uma lista de luz muito fraca em forma de zigue-zague de como 3° de largura e 5° ou 6° de comprimento. A altura angular da faixa grande sobre o horizonte parecia de 8° (receoso de perder alguma circunstância do fenômeno não recorri ao instrumento para medir essas dimensões). Foi tudo abaixando com não maior velocidade aparente do que os astros no seu ocaso, porém os globos luminosos mudaram de aspecto tomando a forma elíptica de cada vez mais achatada, e embaciando até parecerem pequenas nuvens. A faixa grande inclinou-se para N até ficar quase horizontal, mas o zigue-zague sempre conservou a mesma direção. Depois de 25’ tudo desapareceu, e não houve o mais leve sinal de perturbação na atmosfera. Na cidade de Assunção, conversei com o ministro do Brasil e diversas outras pessoas que testemunharam esta, para nós todos, singular aparição. Uma circunstância que me pareceu muito digna de notar-se, é a direção em que o dito Ministro observara o fenômeno; não houve engano, pois referia a observação a um muro cujo azimute era fácil verificar, e esta direção era proximamente de ONO, fazendo por tanto um angulo de 45° com a de NNO, que eu notara. Submeti ao cálculo trigonométrico esta enorme paralaxe combinada com as posições geográficas de Assunção e do lugar onde eu observei, e achei que o fenômeno devera verificar-se na região atmosférica e tão somente a 59 léguas de distância de Assunção.”
           
— Augusto João Manuel Leverger, Gazeta Official do Império do Brasil, 26 de novembro de 1846, vol. I, n° 74, p. 295


- Andréa, Júlio. A Marinha Brasileira: florões de glórias e de epopéias memoráveis. Rio de Janeiro, SDGM, 1955.