1822             -                NAVIOS DE GUERRA BRASILEIROS            -               Hoje

Almirante Joaquim Marques Lisboa

Marquês de Tamandaré

 

 

Nome

 

O NOME

 

Filho do Tenente Francisco Marques Lisboa, Capitão-de-Milícias, prático da barra e patrão-mor do porto de Rio Grande e de Dona Eufrásia Joaquina de Azevedo Lima, Joaquim Marques Lisboa, futuro Marquês de Tamandaré, nasceu em 13 de dezembro de 1807, na Vila de São Jorge do Norte, no Rio Grande. Seu padrinho de batismo foi o legendário fronteiro Marechal Manoel Marques de Souza, precursor da Independência e que guiara como tenente, as tropas de terra e mar que reconquistaram, em ação conjunta, ao comando do Tenente-General Henrique Böhn operando a partir de São José do Norte, a Vila do Rio Grande, em 1º de abril de 1776, há 13 anos em poder dos espanhóis. Cresceu aprendendo, com seu pai, as manobras dos barcos e as práticas de navegação. Impossibilitado de ingressar na Academia Real de Guardas-Marinha, por não ter ascendência nobre, engajou na Marinha quando D. Pedro I iniciou a organização da Armada brasileira, após a Independência.

 

Ingressou na Marinha Imperial em 4 de março de 1823 aos 16 anos na condição de voluntário, recebeu ordens de embarcar na Fragata Nichteroy, onde deveria executar todas as práticas e serviços pertencentes a piloto e marinheiro. Seu acesso ao oficialato dependeria das informações que o Comandante do navio, John Taylor, pudesse dar às autoridades navais, sobre sua conduta e esforços. Iniciou a carreira, a bordo da Nitcheroy, participando das lutas contra a resistência portuguesa na chamada Guerra da Independência na Bahia e da perseguição à Esquadra lusa até a foz do rio Tejo.

 

Por mérito, ingressou na Academia Imperial de Guardas-Marinha que freqüentou por quase um ano, até ser requisitado pelo Almirante Cochrane em 1824 para embarcar na Nau Pedro I que foi mandada para combater à revolução deflagrada pela "Confederação do Equador" em Pernambuco, na qual seu irmão mais velho, morreu combatendo como republicano contra o governo imperial. Nestas ações conquistou a admiração e estima dos seus chefes que atestaram que ao tempo de sua participação na guerra da Independência "já possuía condições de conduzir uma embarcação a qualquer parte do mundo". Retornando em seguida à Academia, foi promovido a 2º Tenente em Comissão em 2 de dezembro de 1825 e efetivado no posto em 22 de janeiro de 1826, sendo e removido para as guerras do sul.

 

Participou da guerra Cisplatina em 1825-28, tendo inclusive comandado dois navios, um deles a Escuna Constança, como 2º Tenente e com 19 anos de idade, participando do bloqueio ao porto de Buenos Aires. Durante essa campanha, em 12 de outubro de 1827, foi promovido a 1º Tenente. Em 7 de março a Escuna Constança, foi capturada pelos argentinos na Patagônia. Liderou um motim a bordo do Brigue argentino Ana, onde estava preso, assumiu seu comando e conseguiuescapar para Montevideu. Capturou também em ação o navio inimigo Ocho de Febrero, além de ter lutado nos combates de Corales e Lara Quilmes. De volta à Patagônia, naufragou a bordo da Corveta Maceió.

 

Entre 1830 e 1836, participou da pacificação da Província de  Pernambuco, na revolta da "Setembrada", lutou contra revoltas nas províncias do Ceará, Bahia e Pará. Atuou também nas lutas contra outras revoltas, como a "Abrilada" em abril de 1832, em Pernambuco e a "Cabanada" e "Sabinada" em 1835, na Bahia. Em 22 de outubro de 1836, foi promovido a Capitão-Tenente. Em 1839, combateu contra a "Balaiada", na Província do Maranhão.

 

Em 15 de maio de 1840 foi promovido a Capitão-de-Fragata, em 14 de março de 1847 a de Capitão-de-Mar-e-Guerra, graduado, já havia desempenhado, inclusive, diversas comissões no exterior, com uma carreira que espelha exemplos de espírito humanitário e de heroísmo.

 

Em 1848, participou da luta para conter a revolução dos "Praieiros", em Pernambuco, comandando a vitoriosa Divisão Naval dos Imperiais Marinheiros. Foi mandado para Inglaterra para assumir o comando da Fragata a Vapor Afonso, que lá estava sendo construída. Em 24 de agosto, quando estavam sendo realizadas as experiencias de mar da Afonso, dirigiu os esforços para resgatar as vitimas da Galera inglesa "Ocean Monarch", que sofreu incendio ao largo de Liverpool. O Comandante Marques Lisboa, foi agraciado pelo Governo Britanico com um valioso cronômetro de ouro, onde se lia: "in commemoration of his galant exertion on this melancholy occasion".

 

Já no Rio de Janeiro, e ainda no Comando da Fragata Afonso, conseguiu rebocar e trazer para para dentro do porto a Nau Vasco da Gama, que se achava avariada e em perigo após violento temporal. Por esse feito, recebeu dos portugueses residentes no Rio de Janeiro, mediante subscrição popular, para a qual só se recebiam "quantias de um até cinco mil réis", uma espada de ouro ricamente trabalhada.

 

Em 14 de março de 1849, foi efetivado como Capitão-de-Mar-e-Guerra. Comandou, em sua carreira, diversos navios da Armada Imperial, exercendo, também vários cargos administrativos. Foi comandante da Divisão Naval do Rio de Janeiro (1849), Capitão do Porto do Rio de Janeiro (1852), Inspetor do Arsenal de Marinha da Corte (1854) e membro efetivo do Conselho Naval (1859). Tamandaré reorganizou e modernizou a Marinha, adaptando-a para a navegação a vapor.

 

Por estar enfermo não combateu na guerra contra Oribe e Rosas (1851-52). Em 3 de março de 1852, foi promovido a Chefe-de-Divisão. Em 2 de dezembro de 1854, foi promovido a Chefe-de-Esquadra.

 

Em 2 de dezembro de 1856, foi promovido a Vice-Almirante e em 28 de março de 1860 recebeu do Imperador Dom Pedro II, o titulo de Barão de Tamandaré, sendo o primeiro oficial da Marinha do Brasil a ingressar na nobreza.

 

Em 1864, foi nomeado Comandante em Chefe das Forças Navais do Rio da Plata, chegando a Montevideu a bordo da Corveta Nichteroy. Seu maior feito militar foi haver comandado a conquista da cidade oriental de Payssandú, em 1º e 2 de janeiro de 1865 e de Salto , vitória que assegurou as forças militares do Brasil, posição estratégica de real valia na vigilância de fronteira, além de com ela abrir os portos e a posse de Montevideo, conseguida com o acampamento do nosso Exército em Frai Bentos e de nossa Marinha no porto de Montevideo.

 

Destacou-se na guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai (1865-70), comandando as forças navais, em apoio a Caxias, e desempenhou ação decisiva no campo logístico e operacional até 22 de dezembro de 1866, quando afastou-se por motivo de saúde.

 

Em 11 de junho de 1865 travou-se a vitoriosa batalha do Riachuelo, a maior batalha naval da América do Sul vencida pela 2ª e 3ª divisões da Esquadra Brasileira sob sua orientação e comandadas pelo Almirante Barroso.

 

Em fevereiro de 1865, foi elevado a condição de Visconde. Em 21 de janeiro de 1867 foi promovido ao posto de Almirante, em 1887 a Conde de Tamandaré e por fim em 1888 a Marquês.

 

Tamandaré após relevantes serviços no comando da Esquadra Brasileira em operações, passou o comando da mesma, em Curuzú, ao Almirante Joaquim José Inácio, Visconde de Inhaúma, encerrando, assim, mais de 30 anos de assinalados serviços à Segurança do Brasil.

 

Joaquim Marques Lisboa foi grande amigo de D. Pedro II, causando-lhe grande pesar a queda do Monarca. Aceitou o fato, afirmando: Cuidemos agora de trabalhar e engrandecer a nossa Pátria.” Em 20 de janeiro de 1890 solicitava a sua reforma, permanecendo como Ministro do Supremo Tribunal Militar, até pouco antes de sua morte, no Rio de Janeiro em 20 de março de 1897 aos 88 anos de idade. Foram dispensadas as honras fúnebres, apenas seis marinheiros o transportaram de sua casa ao carro fúnebre.

 

Obteve os seguintes galardões: Oficial da Imperial Ordem do Cruzeiro, 1841; Oficial da Imperial Ordem da Rosa, 1846; Dignitário da Imperial Ordem do Cruzeiro, 1849; Comendador da Orcem da Torrê e Espada, 1849; Veador de Sua Majestade a Imperatriz, 1855; Conselheiro de Guerra, 1860; Barão de Tamandaré, 1860; Grã-Cruz da Ordem Imperial de Francisco José, 1860; Comendador da Ordem de São Bento de Aviz, 1861; Ajudante-de-Campo de Sua Majestade o Imperador, 1862; Visconde de Tamamdaré, 1865; Conde de Tamandaré, 1887 e Marquês de Tamandaré em 1888. O nome Tamandaré, foi escolhido para o título com que foi agraciado, se originouda homenagem que o Imperador lhe prestara recordando o episódio ocorrido naquela localidade de Pernambuco, onde o Major Manuel Marques Lisboa, irmão de Tamandaré, perecera na revolução de 1824, contra o Império.

 

O Nelson Brasileiro, é por tradição cultuado patrono da Marinha do Brasil, em razão do Aviso n.º 3322 de 4 de dezembro de 1925, que instituiu o seu aniversário como o Dia do Marinheiro e Dia de Tamandaré, com o espírito de "representar na História Naval Brasileira a figura de maior destaque dentre os ilustres oficiais de Marinha que honraram e elevaram a sua classe". E mais que, "neste dia deveria a Marinha render-lhe as homenagens reclamadas por seus inomináveis serviços à liberdade e união dos brasileiros, demonstrando que o seu nome e exemplos, continuam bem vivos no coração de quantos sabem honrar a impoluta e gloriosa farda da Marinha Brasileira".

 

Por seus quase 67 anos de heróicos, legendários e excepcionais serviços prestados à Marinha, é por ela hoje considerado o seu marinheiro símbolo e padrão.

 

TAMANDARÉ HIDRÓGRAFO

 

A figura destemida e competente de Tamandaré é conhecida por todos os brasileiros. O que nem todos sabem é que ele atuou, também, no campo da Hidrografia.

 

O Mapa Hidrográfico da Baia de Todos os Santos, datado de 1846, foi elaborado sob a direção do Capitão-de-Fragata Joaquim Marques Lisboa, que na época comandava a Estação Naval do Centro, embarcado na Corveta D. Francisca.

 

A carta, elaborada por Tamandaré, é considerada a melhor dentre as muitas que, a partir de 1574, e até 1846, foram feitas. Possui a qualidade de responder aos propósitos de segurança da navegação, e se comparada à carta da Baia de Todos os Santos, publicada em 1962, não apresenta erros que desmerecessem sua execução.


- Andréa, Júlio. A Marinha Brasileira: florões de glórias e de epopéias memoráveis. Rio de Janeiro, SDGM, 1955.

 

- NOMAR - Notícias da Marinha, Rio de Janeiro, SDGM, n.º 520, dez. 1986, n.º 704, dez. 2000.

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